Enquanto a C-suite está se tornando cada vez mais consciente das ameaças que usuários mal-intencionados representam, muitos ainda mantêm uma impressão ultrapassada de cibercriminosos. Imaginamos "hackers" encapuzados, trabalhando sozinhos em um porão, e é claro, a ilustração do banco de imagens que acompanha a grande maioria dos artigos da mídia sobre ataques cibernéticos retrata exatamente isso.
A realidade atual é que muitos usuários mal-intencionados não são operadores não autorizados; eles trabalham como parte de grupos sofisticados e organizados, colaborando com outros grupos dentro de um ecossistema mais amplo de especialistas. Estes grupos reúnem recursos financeiros significativos ao longo do tempo, derivados do lucro de ataques comercialmente dirigidos ou do pagamento de Estados que patrocinam ou comissionam diretamente suas atividades. Eles utilizam esses recursos para melhorar seus ataques subsequentes, pagando pela infraestrutura ou até mesmo subornando os funcionários de seus alvos para ajudar a obter a credencial de entrada.
Saber como esses grupos de ataque funcionam não é apenas interessante, como também fornece uma inteligência inestimável que pode ajudar as organizações a fortalecer sua postura de segurança. Saber o que motiva os atacantes, como eles pensam e trabalham, e o que eles estão procurando alcançar, fornece uma vantagem na linha de frente de defesa, planejamento estratégico e, quando o pior acontece, também ajuda na gestão de incidentes.
1) Os cibercriminosos trabalham em grupo, o que permite que eles se tornem especialistas.
Uma ida às compras na dark web revela indivíduos ou equipes com habilidades em elementos específicos da cadeia de ciberataques. Há equipes que são especialistas em pulverização de senhas, outras que são especialistas em entrada, e ainda existem aquelas que irão administrar um ataque ransomware para qualquer "cliente" que pague. Eles se reúnem em grupos de ataque que evoluem regularmente (daí os nomes estranhos que também evoluem), com isso, ajustam cada vez mais sua abordagem para refletir o debate interno e as lutas de poder. O que podemos aprender com isso? Além da importância da inteligência sobre ameaças para se manter a par das tendências e dos riscos em tempo real, podemos aprender que a colaboração é poderosa. Se as equipes de segurança compartilham redes e informações - e estão preparadas para trabalhar com a concorrência para o bem de todos - então nós também podemos ser ágeis, bem-informados e preparados. E esta colaboração também é essencial dentro da organização. Muitas vezes as ferramentas de segurança são desconectadas umas das outras e não fornecem à equipe de segurança a visão holística necessária para detectar uma cadeia de ataques multi-vetor. Para impedir ataques altamente organizados, as equipes de segurança precisam garantir que suas ferramentas de segurança estejam bem integradas e possam compartilhar informações relevantes, tais como indicadores de comprometimento, em tempo real.
2) Os usuários mal-intencionados utilizam a infraestrutura da nuvem para seus ataques.
Eles fazem isso por várias razões. A infraestrutura da nuvem é inerentemente ágil; os atacantes podem transformar sua infraestrutura de forma rápida e barata—depois desmontar e recomeçar se sua operação for comprometida. Eles também são atraídos pelo fato de que—utilizando os mesmos serviços de nuvem que as organizações visadas—eles podem se disfarçar em tecnologias de segurança mais antigas. A segurança tradicional não pode sequer diferenciar entre os componentes vitais do Microsoft Office 365, tais como instâncias do Microsoft Teams que a organização sancionou, e contas de terceiros... Então, se eles estão atacando da nuvem, eles são "lobos em pele de cordeiro" e muitas vezes podem caminhar facilmente através de portas abertas. Nosso aprendizado aqui? Adote a segurança na nuvem por sua escalabilidade e vantagem de custo, e porque dessa forma sua segurança estará muito melhor posicionada para detectar um ataque. Implemente uma abordagem zero trust não apenas no acesso à rede, mas também na segurança da nuvem e na proteção de dados.
3) Usuários mal-intencionados inovam.
Muitas organizações vêem a inovação como sendo inerentemente arriscada—e sem dúvida há exposições aos riscos quando você tenta coisas novas—mas o oposto também é arriscado. Se seus sistemas, ferramentas e práticas não estiverem atualizados, então os cibercriminosos darão de 10 a 0 em sua defesa. Os usuários mal-intencionados estão sempre mudando sua abordagem e modelo de negócios; o ransomware não era nada há alguns anos e embora agora domine as discussões sobre segurança, os atacantes já estão evoluindo da abordagem original de “pagar para desbloquear os dados” para novas formas de incômodo, como ameaças de exposição pública. À medida que nos distanciamos e avaliamos o primeiro semestre de 2022 retrospectivamente, há uma boa chance de encontrarmos uma mudança completa de ransomware para ataques que priorizem uma disrupção, refletindo a mudança de motivações alinhadas com a geopolítica. Diante desta inovação, não podemos ficar parados na defesa. Mantenha-se atualizado sobre as tendências de metodologia de ataque, tente pensar no futuro e identificar a vulnerabilidade antes que seu atacante o faça para que você possa eliminá-la. Isto pode significar simplesmente melhorar a higiene em torno do gerenciamento de patches, ou pode ser construir de forma proativa uma melhor visibilidade sobre os "cantos misteriosos" da sua TI (e aqui eu definitivamente quero dizer o uso não sancionado da nuvem!). Além disso, substitua seus appliances de segurança obsoletos on-premises (com seus longos ciclos de atualização e melhorias) por serviços modernos de segurança em nuvem que evoluem constantemente as técnicas de detecção e mitigação de ataques utilizando tecnologias modernas, como a IA impulsionada pelo ML.
4) Os atacantes são bem financiados.
Mencionei anteriormente que existem algumas fontes de renda diferentes para os cibercriminosos. Alguns atacantes são financiados taticamente pelos ganhos com ransomware, ou com lojas na dark web vendendo dados de guerra ou serviços especializados de ataque. Outros realizam regularmente trabalhos "remunerados" para os Estados-nação, mas todos por trás das linhas inimigas têm uma compreensão clara da ligação entre dinheiro e resultados. Recomendo que vale a pena ajudar seus stakeholders a entender o financiamento por trás dos atacantes dos quais você está se defendendo. Nem mesmo um adolescente que realiza ataques a partir de sua garagem não está trabalhando por nada. Nem mesmo um adolescente que realiza ataques a partir de sua garagem não está trabalhando por nada. Os ataques são grandes negócios (de fato, a Cybersecurity Ventures prevê que os danos do crime cibernético global atingirão US$ 10,5 trilhões anualmente até 2025, o que é mais do que o lucro derivado do comércio global de TODAS as principais drogas ilegais combinadas). Defina seu orçamento de segurança demonstrando à sua organização o custo de economizar com segurança (e há alguns conselhos úteis neste e-book sobre o cálculo do impacto de um evento de perda de dados). Também não precisa ser um exercício de mendicância constante, pois gastar dinheiro em segurança pode colher ganhos significativos em outros centros de custo. O que quer que você faça, não entre em batalha sem o recurso apropriado.
5) A maioria dos atacantes são oportunistas.
Tudo o que eu disse até agora ilustra um grupo de atacantes altamente calculistas e muito concentrados, mas a realidade é que a maioria é incrivelmente oportunista. Eles frequentemente encontram suas vítimas simplesmente procurando por oportunidades fáceis. O aprendizado aqui é: não seja a presa fácil. Mantenha suas janelas e portas fechadas e, com toda a probabilidade, os atacantes encontrarão um alvo mais fácil de se perseguir. A grande maioria não está atrás de sua organização, mas atrás de seu dinheiro. Para evitar ser atingido por estes, basta evitar ser o alvo mais fácil, portanto, uma boa higiene cibernética é fundamental. Não adianta realmente gastar uma fortuna em firewalls e VPNs caros se seus funcionários estão deixando os Google docs e os buckets AWS abertos na nuvem.
"Hacker" é um termo que eu sempre evito quando falo de usuários mal-intencionados. É um termo equivocado que presta um mau serviço tanto para os muitos que se identificam com o termo apesar da falta de atividade nefasta, quanto para as organizações maliciosas que existem para prejudicar. Como a figura misteriosa e viciada em capuz nas imagens super utilizadas, "hacker" cria uma visão desatualizada e inútil sobre exatamente o que estamos enfrentando como profissionais de segurança.
Da próxima vez que um de seus stakeholders falar sobre "hackers", e você sabe que eles estão imaginando amadores operando a partir de seu porão, aproveite a oportunidade para contar-lhes um pouco sobre quem realmente são esses criminosos e ajude-os a aprender algumas lições sobre usuários mal-intencionados para melhor proteger sua organização.